quarta-feira, 30 de junho de 2010

nissei II

sol do meio dia sol da meia noite
uma filosofia num plano oriental
tenho a dizer rasgo os meus olhos
pra você
luz da manhã luz de um novo dia
sayonara por tantas alegrias
tenho o prazer de abrir minhas janelas
pra você

quarta-feira, 23 de junho de 2010

nissei I

ela nem sabe que me faz feliz
quando dança tão pouco imagina
que estou por um triz de dançar
quando ela dança
por onde ela anda não sei
dela nem sei quase nada
só sei que a cidade é grande demais
e eu reproduzo-a no centro da sala
ela emana ectoplasma
pasmo ela dança pra mim
pasmo ela dança em mim
minha língua cópula alma

sexta-feira, 18 de junho de 2010

ao mestre


pelas linhas que saltam nas mãos
recostando no papel em palavras
guardando na suave força escrita
a certeza do ser
pela essência de ser
para sempre mestre
do tempo lógico e mágico
será mago
SARAMAGO

quinta-feira, 17 de junho de 2010

não basta

não basta esta aqui
não basta dizer presente
não basta fugir mentir
não basta ficar e ser ausente
não basta sambar ao som de um jazz
não basta rolar na mesma cama
não basta viver o pouco mais
não basta sonhar atropelado sombras

não basta só força de expressão
não basta olhar se não enxerga
não basta cantar qualquer canção
não basta chorar e não molhar a terra
tem que se perder nos mares na lua
tem que se achar nos lares na rua
e ai então flagrar-se amor

domingo, 13 de junho de 2010

paz em kakuma

diga se a grana paga se combate a praga
diga que o terror engana pela dor que acostuma
diga se a voz que cala cicatriza feridas
poder por poder é soma de podres
grite no vento, não
e veja que o poder é a suave beleza da graça
que apaga a desgraça e suaviza a alma
paz em kakuma
pela força da mulher
filhos de mary filhos de jenta
de florence de ângela e de ester
filhos de mães áfrica
negros gritos de silêncio
a ecoar pelo universo

quinta-feira, 10 de junho de 2010

tela vive


tela vive tela fala tela manda
tela exibe tela plana tela engana
que louco seria capaz
de atirar a primeira pedra
que doido se julga poder enfrentar o poder da fera
vivemos na estática hora moderna
no pó das promessas que nunca acabam
nós somos as caras da longa espera
dessa fila desestruturada
a vida é bela vista de outra janela
nu via satélite é na base do tapa
e a rede embala captura
a gente dança não capta nada
para cesar o que é de cesar para pedro pedro para
para cesar o que é de cesar e para pedro pedro nada
tela vive tela fala tela manda
tela exibe tela plana tela engana

terça-feira, 8 de junho de 2010

palavrando

tudo prospera
se a pá lavra a terra
se não há palavras
cessam os sonhos
trago na alma o mundo
que os olhos não vêem
minha língua é meu canto
prefiro a guilhotina
ao terror da mordaça

quinta-feira, 3 de junho de 2010

raros disparos

tão raros são os disparos contra as lentes
que insistem em nos mostrar de formas que não somos
novos aos moldes decadentes

impulsivos loucos e doentes
tão raros são os disparos contra as lentes
que cortam os nossos olhos quase dormentes
com seus jogos incrédulos a créditos
de cartas marcadas e lobby facista
tão raros são os disparos contra as lentes
que invadem nossas casas presentes ausentes
com claras promessas em datas distantes
em números e estatísticas irrelevantes
tão raros são os disparos contra as lentes
que elevam ao apogeu e reduzem a indigentes
que calam a voz dos que não tem vez
que roubam os sonhos dos que nem realidade tem
tão raros são os disparos contra as lentes
o que vem a ser caráter
em que consiste a personalidade
diante do uso absurdo e abusivo
que significa ter vontade
qual o verdadeiro teor da qualidade
se o que vemos é o adultero consumo exacerbado de tanto
onde a maior parte do todo não nos tem serventia
tão raros são os disparos contra as lentes