telhado

no tempo de menino fiz jus ao direito de fazer arte

aprendi nos descompassos todas as áreas

traquinogeométricas dos trapézios das janelas

da minha coleção de bolinhas de gude

onde nunca fui um grande jogador

me restaram as três que eu engoli

nas minhas trapaças deixei para as traças

todos os meus álbuns de figurinhas

dentre tudo isso um dos meus maiores feitos

foi ter me tornado um íntimo amigo dos telhados

nem me lembro mais quantas horas gastei

com minhas conversas em torno do mundo do nada

que nada tenho a dizer, nem em completo sigilo...

acerca

se tivesse que escolher poetas

de certo eu ia preferir os mais simples

aqueles que fazem poesias a cerca de nada

beira de mato, ribeira do rio, musgo, limo de pedra

tudo descoberto de tudo a tempo

por todo canto do todo alcance

giração

dar asas a imaginação

acelera a mente de giração

sempre

um amor para recordar

seus cabelos soltos

me abrem o sol na estrada

rimam os meus passos

que rumam por saber

que o vento sopra o rosto

e faz sentir o amor que não se vê

seus cabelos soltos

escorrem em minhas costas

afagam minha alma

me fazem acreditar

que a verdade é livre é como o rio

e o grande amor não estanca

seus cabelos soltos

são os meus pensamentos

que tornam minhas palavras

eternas pelo ar

ar da graça

é no balanço do ar

que toda graça aparece

discordar

sou um discordador de acordos

gosto é dos acordes desrimados

sei acordar deixando a dor, dormindo

concordar, é dar nó na corda do saber

na minha arte não há regras estabelecidas

muitas vezes a concordância nem é bem vinda

parceria

dois é igual a um par

e menor que uma parceria