sexta-feira, 29 de junho de 2012

capinalista


das amarras de bocas nos cabrestos dos pobres jumentos
ao centro do acento lateral no circunflexo do tal enjoado
tudo soa como um bando funk da lata do crivo medonho
que mãe mangueira de certo sua sombra não emprestaria
tem sempre uma onda pintada de piratas caretas novinhos
pairando pela antena na pedra do pecado capital vitalício
cadê a flecha perdida na social floresta de sir robin hood
e as dos bravos índios que nem livraram nosso velho tião
aaah minha avozinha! acerta sua mandinga no armarinho
quiçá seus orixás possam nos livrar dessa erva daninha
para que não brote tão cedo mais um novo capim-na-lista

terça-feira, 26 de junho de 2012

ignorante





ignorar o poder da comunicação 
é dar munição a quem explora a ignorância

domingo, 24 de junho de 2012

autonomia


derramo gotas de abaete em versos de drummond
beijo a orla de ipanema num romance louco amado
transo versos armoriais curto universos mário
beijo a boca de vocês longe as areias do olho d’água em são luis
cruzo as luzes dos faróis como um barco ilha
sob tanto céu sobre tanto mar
em meio a tantas barras tenho veias verdes
correndo em pleno corpo ereto
sou um índio azul negro branco aos raios amarelos
respiro letras de caê transpiro no embalo negro gil
não sei se sou carioca ou baiano mas sei terra mãe que me pariu
receito poesia sem contra-indicação
doses de alegria em ponto de ebulição
som e nostalgia muita intensificação
sonhos de rebeldia só os de coração
e agita filtrar em pétalas de flor
destilar ao sol de um infinito amor
desejo ouvir meu idioma nos bares e bases fundamentais
sem rótulos de cola apenas o pó das fontes naturais
neste imenso mar de amar posso cantar 
meu canto assim entoa atoa
un s’il vout plâit il fout finir le crie de mururoa

sexta-feira, 22 de junho de 2012

retração de sentido


retração de sentido é como praga de uma doença imposta
tem formação em quadrilha com a medicina de finanças
que depõe contra todos e quaisquer direitos de escolha
parasita de capacitada evolução, suga mas não mata
difícil é conseguir imunidade à tal contaminação
com selo de encomenda militar por democracia
invade lares com seus retrógados desserviços
a dizimar ação constrangendo por dossiês
minuciosamente descrita em livros
e resumida em duas palavras:
comunicação vitalícia

quinta-feira, 21 de junho de 2012

cartel


a informação de quadrilha gera a desinformação em cadeia

do cabo desinformado ao cabo de informação:

- de quem é a ordem de mando mesmo?
- rapaz, sei não! dizem que é do tal armarinho
- que é isso sô! quem é esse tal armarinho?
- rapaz, sei não! dizem que é a rede do chefe
- chefe sô! quem tem chefe num é índio?
- rapaz, o mundo todo tem chefe e índio é do apito pra reserva
- mas, num era deles a terra quando os homens chegaram?
- rapaz, sei não! e vamos mudar dessa prosa muquirana...
- porque sô? e o que é muquirana?
- rapaz, sei não! tu fala e pergunta demais, e fica me confundindo...
- mas, essa tal de democracia num dá direito de liberdade sô?
- rapaz, sei não! mas, vou te dá uma sugestão, se tu torcer pro rubro timinho, ouvir e dançar musiquinha da boa, tu vai tá fazendo direito e não vai ter nenhum problema...
- que é isso sô! isso num é direito, isso é coisa de direita...
- não compadre isso é direito de imprensar...






segunda-feira, 18 de junho de 2012

intimamente III


resolvi aprender mais sobre os assuntos do espaço
desembrulhei as mãos pra afinar o tato nas digitais
deixei de lado o compasso, a régua e o transferidor
às vezes transferir a dor requer acolhimento e zelo
algo como desenrolar o adormecido fio dos novelos
como cavar na unha o pensamento mais enrugado
ai então achar um cantinho no cavado chão do céu
sempre fui bom nas lições de cavoucar nas nuvens
por isso descobri os precipícios de derramar chuvas
regar a vida é ritual, coisa de abstrata necessidade
quando triste choro de mar por afluentes de banzo
já alegre também me dano a chorar pelos cotovelos
acho que gosto mesmo é de juntar lagrimas de rir
guarda-las para no largo tempo fabricar orvalhos
talvez tenha que repassar ao passatempo dos dias
o longo itinerário de reconstruir os conhecimentos
para continuar brotando pelo saber desencadernar
dar valor ao nulo é sabedoria duma pá de ciências

sábado, 16 de junho de 2012

cuidar da palavra


há de se cuidar melhor das palavras,
para que não se fechem os caminhos...

sexta-feira, 15 de junho de 2012

medíocre IX

todas as relações entre o pequeno e o grande alexandre
são associativas ao furto da cronologia das informações
o quadrilátero perfeito de grades, a formação de bandos
com os imensos buracos de fossas dos quintais da terra
que passam no antro centro da mediocridade expansiva
para findar nas fétidas profundezas de armazenamento
que são destinadas aos devidos substratos de evacuação
tudo rejuntado do colapso estomacal dos desqualificados
uma liga corrupta da dele-gacia dolo politiqueira privê
que consiste da soma do volume fecal do velho jornalista
com a deprimente comunicação vitalícia do ar marinho
na esfera da chibata dos desagregados coronéis nefastos
torpes articuladores da direita pré fazedores de dossiês
aaah minha avozinha! se o leite derramasse nessa nata
como cruzada de esquerda no queixo da atroz burguesia
a mega alexandria seria apenas uma trava de porrinha
a rolar nas esquinas feito penico sem asa a mão de lona

quarta-feira, 13 de junho de 2012

gigante da colina


ser vasco da gama
é construir um santuário em forma de fortaleza
uma barreira como forma de defesa contra forças vitalícias
ser vasco da gama
é fazer história pela coragem dos atletas negros
derrubando preconceitos ainda entranhados por essas redes
ser vasco da gama
é representar a seleção de ouro antes de outros
mesmo que a edição dos fatos seja dos algozes incendiários
ser vasco da gama
é ter direito ao anel de sombra de maior torcida
ainda que o sistema ditador imponha a sua rubra vontade
ser vasco da gama
é o prazer de olhar da janela o gigante da colina
como solitário farol a iluminar meu lar com cruz de malta

sábado, 9 de junho de 2012

angustiado



eu precisava escutar aquela canção de belchior
e dividir com ela a minha sensação de angustia
abrir o peito pra ilusão dos idealistas
e deixar que o tempo
seja a solução do mal irremediável
eu precisava ir além de uma dissertação do poeta mário
e me inclinar com ele reverentemente diante do errado
estender a mão no vão dos miseráveis
e achar que vem em dobro
quando a muito tempo não mostra nada
quem me dera! quem me dera que uma flor
me mostrasse o amor em nome da arte ou do coração
e retornasse em qualquer cor qualquer teor
que justifique em mim a existência do dragão
quem me dera que voz de um cantor
cruzasse as cordas do meu violão
e invadisse qualquer pôr
qualquer plano identificador
da atmosfera livre da minha canção
mas é contraditório é tudo muito certo
e por ser tão certo desejo estar errado
quem me dera que o seu amor
não me deixasse um pôr de sol
só a meia luz angustiado...

quarta-feira, 6 de junho de 2012

em espera


o exercício de esperar é vestimenta áspera
como fragmentar no arrastado tempo
arear movimentos, desmontar ação
ora encomendando acabamentos
ora gerando desacelera mento
oração de ladainha passiva
pelo ar refeito, rarefeito
inerte a contra dança
de rasa densidade
sem pensamento
finalizar a teia
é fundir lama
aprofundar
e afundar
em areia
m
   o
     v
       e
        d
           i
            ç
              a

segunda-feira, 4 de junho de 2012

sobre versões


no barro de terra cota rascunho detalhes no olhar
ah as minhas saudades! gosto de tê-las ao tempo
até perder o tempo como quem repassa a vastidão
há tantas saudades por sentir no oco pensamento
que aprendi arar horas, pingar gotas tecendo ar
pelos serenos dedilhados acolhedores de madrigal
sou dos sentimentos, me agrada refazer começos  
planto magoas pelo aterro, rego o preparo da cor
pra logo vê-las brotando flores de todos os nomes
no recanto sertão das lembranças embrenhadas
tenho o meu amor de poeira assoprado na saliva
onde guardo o quinhão da chuva de matar sede
e num dia azulado de tanto sol, hei de desaguar
tenho fome de vida! a minha sentença é viver!
da valentia de corisco inté o calcanhar de dadá
sigo escutando as ladainhas nas atuais revistas
que insistem em copiar ditos de velhas retóricas
introduzindo a desarte aos punhados de versões
capazes de encher os seus próprios latifúndios
sem nunca transbordar e saciar sonhos alheios