segunda-feira, 18 de junho de 2012

intimamente III


resolvi aprender mais sobre os assuntos do espaço
desembrulhei as mãos pra afinar o tato nas digitais
deixei de lado o compasso, a régua e o transferidor
às vezes transferir a dor requer acolhimento e zelo
algo como desenrolar o adormecido fio dos novelos
como cavar na unha o pensamento mais enrugado
ai então achar um cantinho no cavado chão do céu
sempre fui bom nas lições de cavoucar nas nuvens
por isso descobri os precipícios de derramar chuvas
regar a vida é ritual, coisa de abstrata necessidade
quando triste choro de mar por afluentes de banzo
já alegre também me dano a chorar pelos cotovelos
acho que gosto mesmo é de juntar lagrimas de rir
guarda-las para no largo tempo fabricar orvalhos
talvez tenha que repassar ao passatempo dos dias
o longo itinerário de reconstruir os conhecimentos
para continuar brotando pelo saber desencadernar
dar valor ao nulo é sabedoria duma pá de ciências

sábado, 16 de junho de 2012

cuidar da palavra


há de se cuidar melhor das palavras,
para que não se fechem os caminhos...

sexta-feira, 15 de junho de 2012

medíocre IX

todas as relações entre o pequeno e o grande alexandre
são associativas ao furto da cronologia das informações
o quadrilátero perfeito de grades, a formação de bandos
com os imensos buracos de fossas dos quintais da terra
que passam no antro centro da mediocridade expansiva
para findar nas fétidas profundezas de armazenamento
que são destinadas aos devidos substratos de evacuação
tudo rejuntado do colapso estomacal dos desqualificados
uma liga corrupta da dele-gacia dolo politiqueira privê
que consiste da soma do volume fecal do velho jornalista
com a deprimente comunicação vitalícia do ar marinho
na esfera da chibata dos desagregados coronéis nefastos
torpes articuladores da direita pré fazedores de dossiês
aaah minha avozinha! se o leite derramasse nessa nata
como cruzada de esquerda no queixo da atroz burguesia
a mega alexandria seria apenas uma trava de porrinha
a rolar nas esquinas feito penico sem asa a mão de lona

quarta-feira, 13 de junho de 2012

gigante da colina


ser vasco da gama
é construir um santuário em forma de fortaleza
uma barreira como forma de defesa contra forças vitalícias
ser vasco da gama
é fazer história pela coragem dos atletas negros
derrubando preconceitos ainda entranhados por essas redes
ser vasco da gama
é representar a seleção de ouro antes de outros
mesmo que a edição dos fatos seja dos algozes incendiários
ser vasco da gama
é ter direito ao anel de sombra de maior torcida
ainda que o sistema ditador imponha a sua rubra vontade
ser vasco da gama
é o prazer de olhar da janela o gigante da colina
como solitário farol a iluminar meu lar com cruz de malta

sábado, 9 de junho de 2012

angustiado



eu precisava escutar aquela canção de belchior
e dividir com ela a minha sensação de angustia
abrir o peito pra ilusão dos idealistas
e deixar que o tempo
seja a solução do mal irremediável
eu precisava ir além de uma dissertação do poeta mário
e me inclinar com ele reverentemente diante do errado
estender a mão no vão dos miseráveis
e achar que vem em dobro
quando a muito tempo não mostra nada
quem me dera! quem me dera que uma flor
me mostrasse o amor em nome da arte ou do coração
e retornasse em qualquer cor qualquer teor
que justifique em mim a existência do dragão
quem me dera que voz de um cantor
cruzasse as cordas do meu violão
e invadisse qualquer pôr
qualquer plano identificador
da atmosfera livre da minha canção
mas é contraditório é tudo muito certo
e por ser tão certo desejo estar errado
quem me dera que o seu amor
não me deixasse um pôr de sol
só a meia luz angustiado...

quarta-feira, 6 de junho de 2012

em espera


o exercício de esperar é vestimenta áspera
como fragmentar no arrastado tempo
arear movimentos, desmontar ação
ora encomendando acabamentos
ora gerando desacelera mento
oração de ladainha passiva
pelo ar refeito, rarefeito
inerte a contra dança
de rasa densidade
sem pensamento
finalizar a teia
é fundir lama
aprofundar
e afundar
em areia
m
   o
     v
       e
        d
           i
            ç
              a

segunda-feira, 4 de junho de 2012

sobre versões


no barro de terra cota rascunho detalhes no olhar
ah as minhas saudades! gosto de tê-las ao tempo
até perder o tempo como quem repassa a vastidão
há tantas saudades por sentir no oco pensamento
que aprendi arar horas, pingar gotas tecendo ar
pelos serenos dedilhados acolhedores de madrigal
sou dos sentimentos, me agrada refazer começos  
planto magoas pelo aterro, rego o preparo da cor
pra logo vê-las brotando flores de todos os nomes
no recanto sertão das lembranças embrenhadas
tenho o meu amor de poeira assoprado na saliva
onde guardo o quinhão da chuva de matar sede
e num dia azulado de tanto sol, hei de desaguar
tenho fome de vida! a minha sentença é viver!
da valentia de corisco inté o calcanhar de dadá
sigo escutando as ladainhas nas atuais revistas
que insistem em copiar ditos de velhas retóricas
introduzindo a desarte aos punhados de versões
capazes de encher os seus próprios latifúndios
sem nunca transbordar e saciar sonhos alheios